Cloud computing exige novas habilidades de gestão !

Peter Drucker já afirmou na década de 60: “Profissionais são contratados por suas habilidades e demitidos pelo seu comportamento !”. Todos aqueles bons profissionais formados na esteira da microinformática, iniciada nos anos 80, aumentaram seu riscos de ficarem fora do mercado, neste momento, pela dificuldade em perceber e se adaptarem as novas habilidades necessárias e obrigatórias no novo mundo tecnológico da nuvem. E a maioria destas novas habilidades não tem relação com o conhecimento técnico, mas sim com a mudança de hábitos e posturas como profissional que está vivendo uma onda gigantesca de mudanças tecnológicas no cenário mundial.

A resistência em admitir que a nuvem mudou as qualificações necessárias para a gestão de funções, tarefas e de pessoas é um dos maiores impecilhos para uma evolução rápida e positiva da carreira de TI e talvez por isso, outras áreas, de menor conhecimento técnico, como marketing e inovação tendem a absorver partes ou até departamentos e áreas inteiras de TI, em breve já que conseguem se aproximarem mais da linguagem de negócios e de resultados.

                Vejam como a nuvem impacta habilidades de gestão que deveriam ser de simples compreensão e adaptação no nosso dia a dia:

                Gestão de consumo: uma grande maioria dos profissionais de tecnologia tem sérias dificuldades de gerenciar portais e informações presentes em dashboards ( alguns não conseguem gerenciar senhas corporativas por exemplo), tais como cálculo de consumo baseado em processamento, uso de memória, volume de dados trafegados, etc. Inclusive, uma grande parcela destes, não entende novos conceitos de uso ( presentes na telefonia celular há mais de 2 décadas) como aniversário de fatura/contrato, cálculos de faturas pró-rata, pois ativações de serviços na nuvem, podem ser feitas no dia 5, no dia 16, ou em qualquer dia da semana, 24horas por dia e o consumo será exatamente de acordo com o dia e horário em que este ativar o recurso tecnológico dentro do seu ambiente cloud até o dia de fechamento da sua fatura do serviço. Vejam que usuários comuns entendem este conceito para uso de tv a cabo ou telefonia celular, mas muitos profissionais de TI resistem a compreender e aceitar que seus controles e métodos de gestão de consumo precisam se atualizar e a previsibilidade de ações de migração, customização terão impactos em sua fatura mensal, com maior ou menor amplitude dependendo do seu planejamento e conhecimento da tecnologia de nuvem adquirida. Já vejo muitas faturas explodirem no final do mês, porque um programador gerou famosos “loops” infinitos em aplicações que ficaram dias e noites consumindo banda, processamento e memória de servidores na nuvem sem que ninguém, absolutamente ninguém dentro da organização monitorasse ou tivesse uma ação pró-ativa de verificar o que estava acontecendo. Como ter sucesso na nuvem se esta gestão de controle e monitoramento não for realizada a seu favor ?

                Gestão de fornecedores: é quase que natural que com a adoção da nuvem nas organizações, o número de fornecedores de infra-estrutura de tecnologia, tende a cair e uma das estratégias será a unificação e centralização de mais atividades em poucos fornecedores. Se esta é uma premissa que tende a se confirmar, que nova habilidade deverá ser aprimorada ? a gestão da qualidade da entrega dos serviços, obviamente. Controles e cálculos de SLA ( service level agreement) serão uma constante em reuniões e litígios sobre penalizações, multas, indenizações tende a aumentar também de forma exponencial. Então o tempo dos atuais gestores de TI deverá ser gasto, de forma mais produtiva, em escolher melhor seus fornecedores e prestadores de serviço, para garantir entregas dentro do prazo, dentro do custo e com qualidade do que estar preocupado em validar se o ERP está no ar, se a customização, se os links de dados estão adequados ou se é necessário construir ou expandir um novo datacenter. Esta época já ficou para trás, mas claro, há uma luta incansável de muitos manterem seu poder e status quo, controlando recursos locais, baseado no seu poder local. Este pensamento vai resistir durante um tempo, mas será guilhotinado, na medida, em que a alta gestão perceba a velocidade com que o concorrente está e o que está fazendo para ser mais produtivo, dinâmico e eficiente. É natural que a resposta destas angústias das empresas em transformação, verse ou passe pela tecnologia e a sua forma de utilização dentro da organização e quem estiver atrasado ou resistir a isso vai sofrer e muito. O conhecimento de ontem, em TI, talvez, não se mais necessário hoje.

Gestão de contratos: Se teremos menos fornecedores, com mais serviços em menos parceiros, teremos contratos muito mais complexos do que atualmente. Teremos situações quase que impensáveis, onde empresas concorrentes, estarão em formato de consórcio ou parceria para poderem fornecer tecnologias complementares e otimais para uma solução de negócio ou problema de um cliente. Quanto tempo os gestores de tecnologia perdem hoje planejando, estudando, criticando um contrato de prestação de serviços de TI ? muito pouco, pois delegam para áreas jurídicas que pouco sabem ou desconhecem totalmente o manancial de jargões técnicos e pegadinhas de negócio presentes em contratos de adesão de grandes players. O foco do gestor será muito mais de controle, observação, diligência e monitoramento de contratos do que aprofundamento em conhecimento técnicos ou de gestão de projetos. As equipes de TI serão reduzidas ao extremo ( aliás, já estão sendo ) e com poucos recursos, onde o grau de terceirização ou de BPO ( businesses process outsourcing) dentro das corporações será gigante e baseado, novamente em poucos parceiros. Porque empresas manterão unidades de TI, quando a vocação do negócio é de produção fabril, baseados em processo acelerado de automação industrial ? o papel da TI não será de controlar esta infraestrutura, até porque existirão empresas pequenas, enxutas, baratas que farão isso por todos. Então é recomendável, para os atuais gestores, buscarem muito conhecimento jurídico e de administração para poderem lidar com esta nova problemática. O conhecimento multidisciplinar será uma constante e obrigatória para profissionais de tecnologia. Só TI não basta. A linguagem dos negócios é mais importante. Um dos aspectos que mais deve desafiar os novos gestores de TI é a sua capacidade de saber negociar e lidar com objeções e conflitos. Pode parecer um tanto exótica a minha sugestão, mas praticar “oficinas” de teatro ou de aquisições, dentro das organizações será uma necessidade obrigatória deste novo ser humano gestor. Caso contrário, a inteligência artificial substituirá os gestores médios que executem tarefas repetidas e previsíveis.

Gestão da Inovação: Em teoria, gestores de TI são contratados para trazer para dentro de casa, a inovação, a disrupção, aquilo que pode mudar o negócio da empresa, tornando-a mais veloz, mais lucrativa e mais eficiente. Pelo menos é isso que o CEO ou Diretor Presidente deseja. Mas a realidade dura e crua é que o Gestor de TI não tem tempo para isso. Não porque ele não queira, simplesmente porque o modo tarefeiro e operacional de ser posterga a visão estratégica. Ele passa sua maior parte do tempo gerindo capacidade de servidores, links, suporte a usuários, customização do ERP, manutenção e substituição de equipamentos ou o humor das áreas de negócio que clamam por sistemas melhores e velocidade nos tempos de resposta. E a inovação disruptiva que faça a empresa embarcar na esteira da economia digital quem faz ? é uma resposta que ainda está em aberto e que ainda pode ser alcançada pela TI, mas a janela está se fechando a cada dia e tende a ser incorporada como atividade do CMO ( Chief Marketing Officer) que é a pessoa mais estratégica da organização em tempos de crise, pois vendas e faturamento crescente garantem o emprego de muitos. Se os gestores de TI não assumirem este papel e trocarem sua mentalidade de visão operacional para visão estratégica, a tendência, é que outras áreas da organização assumam este papel e releguem a TI a um mero operador de logística de equipamentos e suporte a usuários de áreas de negócios impacientes com aplicações pouco customizadas aos seus processos. Para mudarem isso, precisam mudar dentro de si, a postura mental, a abertura ao novo e a possibilidade de serem pioneiros e propositivos no uso e aplicação de algumas novas tecnologias dentro da sua própria empresa. Para isso precisa melhorar, em muito, aspectos de liderança, motivação pessoal, ambição, capacidade de comunicação, networking, conhecimento e flexibilidade. Se olharmos a quantidade de tecnologias disponíveis na nuvem atualmente, veremos que talvez, 30 a 40% dos atuais sistemas legados nas organizações são substituídos em um estalar de dedos. E quem vai ter coragem de propor esta mudança interna ? hoje, não me parece que seja a TI que tem medo desta mudança. Será um outro gestor, fora da área da TI que não tem nenhum compromisso com legados e prefere o crescimento à tradição e o aumento da lucratividade em detrimento a muitos parceiros de negócio.

Gestão de pessoas: a nuvem traz conceitos novos, posturas novas, novas gerações. Exige muita agilidade, velocidade de compreensão do problema, benchmarking permanente de concorrentes e o uso massivo das grandes massas de dados que geram informações valiosas para tomadas de decisão. A alta gestão não deseja mais relatórios impressos ou telas de BI(business inteligence) complexas de resultados. Funcionalidades abundantes em telas de software são desprezíveis para tomadores de decisão. Não é isso que motiva os novos consumidores de TI. A alta direção quer informações no seu smartwatch, comparação de “post” dos concorrentes, em redes sociais usando inteligência artificial, abrindo incidentes automáticos no SAC da organização que serão atendidos por um chatbot e não mais por uma área de call center. Como motivar equipes de desenvolvimento a não pedirem desligamento para irem trabalhar em startups ou gerir jovens que ingressam no mercado de trabalho com conhecimento mais qualificado que toda a sua equipe de programação, estável e integrada há mais de 10 anos e fazendo e resolvendo sempre os mesmos problemas do seu ERP ? o gestor de tecnologia vai enfrentar, diariamente, muitos conflitos, muitas dúvidas de profissionais que não sabem o que fazer com as suas carreiras, que rumo tomar, se fazem ou não fazem um MBA, etc. Uma das grandes habilidades será ouvir sua equipe, motivá-los, desenvolver conhecimento de coaching, pois o turn-over tende a aumentar gradativamente neste novo mundo cloud. É muito fácil para um profissional de TI, trabalhar de casa, do aeroporto, do posto de gasolina. Como você vai querer que a sua equipe cumpra horários fixos, rígidos se eles são mais produtivos fora do ambiente da organização ? conflitos certos e óbvios. A diferença estará na capacidade do gestor em ser flexível, sem ser demagogo e ter profissionais engajados e produtivos naquilo que gostam de fazer e que produzam resultados adequados para a sua organização sem que haja conflitos de gerações, de opiniões ou de comportamentos.

Você entende que existem outras habilidades não pontuadas aqui ? Gostaria de trocar mais idéias sobre o assunto ? mande um email para O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.